Os produtores de alimentos precisavam vencer uma série de obstáculos até
que o produto chegue até a mesa do consumidor. Dentre eles está o combate às
pragas na lavoura, que minam a produtividade e causam prejuízos financeiros. A
busca por alternativas sustentáveis que inibam o uso de defensivos agrícolas
ganha cada vez mais destaque no dia a dia de quem está preocupada com a
proteção do meio ambiente.
Dentre as diversas alternativas disponíveis para o homem do campo, a
enxertia de tomateiro em jurubeba se mostra vantajosa. O assunto virou tema de
uma oficina apresentada na manhã desta quarta-feira, 14, a produtores de
Palmas, na Escola de Tempo Integral Fidêncio Bogo, localizada na região de Taquaruçu
Grande, como parte da programação do Agosto Verde, idealizada pela Secretaria
de Desenvolvimento Rural (Seder), em parceria com diversas entidades ligadas às
práticas no campo. O presidente da Federação Tocantinense das Entidades Rurais
do Tocantins (Faerto), Pereira Lima, também esteve presente no evento.
A oficina contemplou a explicação de como executar o enxerto de
tomateiro em jurubeba. Apesar de a enxertia não ser uma técnica nova no Brasil,
ainda é pouco conhecida. O ensinamento técnico ficou sob comando da engenheira
agrônoma do Instituto de Desenvolvimento Rural do Tocantins (Ruraltins), Regina
Araújo de Oliveira e do técnico em Agropecuária da Seder, Evaldo Pereira de
Santana.
Estudos feitos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária mostram
que algumas variedades das jurubebas, plantas espinhosas, possuem alto grau de
resistência às principais pragas do solo e que atacam os cultivos de
hortaliças, como os nematoides-das-galhas, murcha bacteriana, murcha de
fusarium oxysporum e verticilum dahliae. Uma espécie nova e invasiva que
tem tirado do sono dos produtores é a Meloidogyne enterolobii, registrada pela
primeira vez no Brasil em 2001.
A enxertia tem como regra básica a utilização de espécies da mesma
família, caso das jurubebas, plantas presentes nas regiões Norte e Centro-Oeste
do Brasil, especialmente na Amazônia, e o tomateiro. A jurubeba também é
resistente à seca. “A enxertia só tem vantagens. É uma técnica que une
tecidos de duas plantas diferentes. O enxerto (o cavalo) produz os frutos
desejados, e o porta-excerto (o cavaleiro) tem a missão de realizar as funções
básicas da planta, como a água e nutrientes, além de proporcionar a adaptação
do solo e resistir a diversas doenças”, explica Santana.
Conforme a engenheira agrônoma do Instituto de Desenvolvimento Rural do
Tocantins (Ruraltins), Regina Araújo de Oliveira, a enxertia proporciona frutos
mais cedo e com alto desempenho. “Unimos raízes fortes com copas produtivas
para aumentar os ganhos para o homem do campo”, garante.
Louracy Pereira da Silva, 42 anos, possui uma pequena propriedade rural
na região de Taquaruçu Grande, e de lá tira uma renda com a venda de
hortaliças. “Tudo que produzo é natural e não utilizo veneno para combater
pragas. Me interessei bastante em começar a cultivar tomates enxertados, para
ampliar os produtos disponíveis para venda. Espero obter bons resultados”,
comemora.
Enxertia passo a passo:
– Semear simultaneamente o porta-enxerto (jurubeba) e o enxerto (tomate) em bandejas para produção de mudas;
– Dos 20 aos 25 dias deve-se realizar a operação da enxertia. As ferramentas usadas são a lâmina de barbear ou bisturi e presilhas. Para baratear os custos, as presilhas específicas para a enxertia podem ser substituídas por pedados de mangueiras plásticas de menor diâmetro;
– A preparação do porta-enxerto para receber o enxerto consiste em cortar transversalmente o caule da muda do porta-enxerto a cerca de 8 cm de altura;
– Agora deve-se fazer uma fenda longitudinal de cerca de 1,5 cm no seu topo;
– No preparo do enxerto, corta-se transversalmente a muda na altura das folhas cotiledonares. A seguir, faz-se um bisel duplo (corte chanfrado) e extremidade inferior do caule, formando uma cunha de cerca de 1 cm;
– A enxertia em si consiste na introdução imediata do bisel do enxerto na fenda do porta-enxerto;
– Coloca-se uma presilha na junção das duas partes de modo a estabelecer um contato íntimo entre os dois tecidos;
– As mudas devem ser levadas para um local em que a úmida mínima do ar seja em 80%, pois é normal o enxerto murchar, mas em baixa umidade pode levar a morte da planta;
– Nos quatros primeiros dias as plantas são colocadas em um ambiente sem luz para reduzir o fluxo da seiva; Após esse período o sombreamento é reduzido em 50% por mais três dias;
– No sétimo dia retiram-se as presilhas e mantém-se as mudas em ambiente
claro e seco. Esse processo deve durar três dias até o endurecimento.
Edição e postagem: Lorena Karlla