
Após 57 anos fora da escola, aluno da EJA sonha concluir o ensino fundamental
O idoso virou incentivador dos demais alunos da turma
“Nunca é tarde para a gente começar.
Basta você querer e lutar pelo seu sonho”. As palavras de José Antônio de
Barros Ferreira soam ainda mais motivadoras quando se conhece a sua história.
Após 57 anos fora da sala de aula e muitas mudanças em sua vida, o senhor de 71
anos retornou à escola para realizar seu sonho de concluir o ensino
fundamental, e hoje, é o aluno mais idoso matriculado na Educação de Jovens e
Adultos (EJA), da Escola Municipal Beatriz Rodrigues da Silva, em Palmas.
Mas, sua trajetória não foi fácil.
Natural de Miracema, seu José conta que passou por muitas dificuldades na vida,
o que o impediram de continuar seus estudos para trabalhar duro e assim poder
ajudar no sustento da família. “Com 8 anos fiz o primeiro ano, mas logo meu pai
adoeceu, e eu e meus irmãos tivemos que parar de estudar para cuidar da roça”.
Segundo o aluno, as dificuldades da
vida familiar o fizeram parar de estudar novamente ao concluir o 2º ano do
ensino fundamental aos 14 anos de idade. E de lá para cá, a responsabilidade
com o casamento, a chegada dos filhos e o ritmo intenso do trabalho o
mantiveram longe de livros e cadernos, mas ao se mudar para Palmas e com o
incentivo do filho Raphael, seu José viu na EJA ofertada pelo Município a
oportunidade de concluir o ensino fundamental. “Meu filho dizia: pai você não
sabe nem mexer num celular, tá muito atrasado, precisa voltar a estudar”,
conta.
Com o incentivo do filho, senhor José
voltou a estudar e hoje, cursando o 7º ano do ensino fundamental, é um dos 406
alunos matriculados nas turmas da Educação de Jovens e Adultos da Escola
Beatriz Rodrigues.
Sempre sorridente, o senhor de 71
anos, que divide seu tempo diário entre os cuidados com sua horta e os estudos,
diz que a única coisa que o entristece é a falta do seu maior incentivador, o
filho Raphael, morto em 2018. “Vou terminar os estudos para homenagear ele, e
se Deus me der disposição e saúde, quem sabe até fazer uma faculdade, porque
como se diz: o soldado morre, mas a guerra não para”.
A persistência do aluno mais velho da
turma, conforme conta o professor de inglês, Alencar Libaino Tavares, é exemplo
para os mais jovens. “A palavra chave é incentivo. Procuro mediar o tempo em
sala de aula para poder acompanhar uma turma onde tem alunos de 15 anos e
outros com mais de 60 anos. Mas, apesar disso, na classe há uma relação de
muito respeito e cooperativismo entre os colegas, onde os mais jovens respeitam
muito os mais velhos e os veem como um modelo a ser seguido”.
Para a diretora da unidade escolar,
Michelle Moraes, a Educação de Jovens e Adultos veio para garantir a inclusão
às pessoas que não tiveram a oportunidade de estudar na idade certa. “Aos 71
anos, seu José é um exemplo de bom aluno, de persistência e de valorização da
educação, e nós enquanto educadores ficamos felizes em trabalhar com esse
público, porque isso completa a nossa missão que é a de oferecer educação a
todos os públicos independente da idade”, conclui a educadora afirmando que da
Escola Beatriz Rodrigues já saíram vários alunos da EJA que hoje estão cursando
uma faculdade.
Edição e postagem: Lorena Karlla