08 junho 2009 às 14:38

Artigo: III ENORD, em busca de soluções

Cerca de 50% dos clientes que sofrem da síndrome de dependência, como a de álcool e outras drogas, recaem após curto prazo de desintoxicação, indicando a necessidade do desenvolvimento de estratégias mais efetivas. É, portanto, um grande desafio o restabelecimento da saúde mental das pessoas acometidas dessa síndrome. Na última década, as pesquisas e práticas clínicas evidenciaram avanços, ainda que de forma bem limitada, na recuperação dos dependentes de substâncias psicoativas. Hoje se sabe que vários fatores são responsáveis pelo aparecimento dessa síndrome: características psicológicas, vulnerabilidade genética, gênero, padrão de consumo e aspectos sociais.


Consideramos que o modelo redução de danos que nasceu da necessidade de formular uma resposta ao novo problema de saúde pública trazido pela problemática imbricação entre uso de drogas e AIDS – acabou por representar um desenvolvimento do modo de enfrentamento do problema-droga do tipo reativo para um agir criativo.


O uso de drogas, como já foi visto, é um fenômeno que tem sua origem vinculada à história da humanidade. Se analisarmos apenas os anos recentes, verificaremos que a indústria do tráfico de drogas e das atividades paralelas que se beneficiam dele, são poderosos conglomerados econômicos que não tendem a diminuir, senão a expandir seus negócios. Para isto, claro que contam com consumidores em todo o mundo, incluindo o Brasil, não obstante sua predileção por mercados mais lucrativos.


Numerosas são as razões que levam as pessoas a consumirem drogas. A maioria dos consumidores, o faz sem ser dependentes, mas é crescente o número de dependentes de drogas.


Há dois problemas cruciais ao associar o controle da epidemia de HIV e o tratamento de usuários de drogas injetáveis: ao propor tratamento com base na abstinência, os melhores serviços no mundo com esta filosofia têm baixo êxito; e é sabido que os usuários de drogas demoram por vezes anos para ir em busca de ajuda.


Conforme se sabe a sociedade costuma tratar os diferentes de uma forma não muito amigável. Os portadores de deficiência e de distúrbios mentais são exemplos ao alcance de todos. Também se tentou considerar durante anos, e algumas correntes insistem em fazê-lo, os usuários de drogas como seres à parte, incapazes de responder pelos seus próprios atos. Isto acaba justificando medidas como internação compulsória, interdição judicial, perda de pátrio poder, dentre outras medidas violentas contra o usuário de droga ilícita.


Portanto o que começou como um movimento de Redução de Danos modelado a partir da prevenção de DST e AIDS, como em outros países do mundo, tornou-se mais adequado às necessidades sociais e regionais da população brasileira. Foi então que Redução de Danos, como um conceito, passou a ter apelo popular no Brasil; deixou de ser um trabalho “específico” como definido por muitas ONGs e Organizações Governamentais, e começou a atender às necessidades humanas do público – usuários ou não usuários de drogas.


Em outras palavras, o Movimento de Redução de Danos no Brasil começou a considerar suas necessidades e desejos de expansão. Isso não somente abriu caminho para uma resposta mais relacionada com as questões econômicas que levam ao uso e abuso de drogas, mas também levou o Movimento de Redução de Danos no Brasil a desafiar de forma mais agressiva as premissas da guerra das drogas: O movimento tornou-se ideologicamente politizado.


Para tanto, com o objetivo de criar um espaço discursivo, avaliativo e estratégico na continuidade da construção dessa Política de Saúde, e já em sua terceira edição é que a Região Norte do País, realiza o ENORD – Encontro Norte de Redução de Danos, que se constituem da soma de esforços, da articulação política e social dos sete estados e seus respectivos municípios, juntos em um único proposito, implementar ações voltadas para garantir a redução dos danos a saúde principalmente daqueles considerados excluídos.


O Estado do Tocantins, sendo o ultimo da região Norte a implantar ações dessa revelancia, tendo como eixo, o primeiro Centro de Atenção Psicossocial álcool e outras drogas de Palmas, passa a ser nessa oportunidade o anfitrião. São poucos mais de 10 Estados, mais de 30 municípios do Estado e fora dele, são mais de três regiões do País, que durante esses dias, se voltam para fazer da Redução de Danos um espaço politico, com inovação de práticas e diversidade nas ações.


Juntos, a Associação de Redução de Danos do Acre, Fórum Norte de Redução de Danos, Associação Brasileira de Redutores de Danos e o Comitê Municipal de Redução de Danos de Palmas, ONG’S, e diversos parceiros realizam o III Encontro Norte de Redução de Danos- ENORD em Palmas- Tocantins, de 9 a 12 de junho.


Max Alberto Souza, presidente do Comitê de Redução de Danos de Palmas