26 dezembro 2017 às 11:05

Catador relembra lutas e fala com orgulho de seu trabalho em prol do meio ambiente

Trabalho digno garante sustento da família e beneficia meio ambiente; Palmas possui atualmente 130 catadores, conforme o diagnóstico do Projeto Lixo & Cidadania

 

“Muita gente não se importa
com suas ações e nem com o destino do que jogam no lixo. Já fui discriminado e
chamado de lixeiro devido ao trabalho que faço. Antes tinha vergonha e raiva da
forma como as pessoas me tratavam, mas hoje em dia sei que meu trabalho é
importante para a cidade e estou fazendo minha parte em busca de um futuro
melhor para todos”, relatou o catador de materiais recicláveis Valdemar Rocha, 57 anos, e que há 15 faz a diferença na Capital.

 

O trabalho como catador não
iniciou por opção, mas segundo ele foi por extrema necessidade. Residente em
Palmas desde os primeiros anos de existência da cidade, Miranda ganhava o pão
de cada dia como estivador, atividade que exerceu por muitos anos, mas que foi
brutalmente interrompida após sofrer um acidente de trânsito e ter a mão
esquerda atingida por um carro. “Passei por várias cirurgias na esperança de
conseguir ter meus movimentos de volta, mas não consegui e isso me obrigou a
procurar uma nova forma de ganhar a vida, já que eu não tinha mais forma e nem
jeito para pegar objetos com a mesma facilidade de antes”, lamenta.

 

Sem ter concluído os
estudos, a opção foi trabalhar como catador de materiais recicláveis. Atividade
que exerce atualmente com muita sabedoria. “No começo nada é fácil, mas a cada
dia venço uma batalha em busca dos meus sonhos”. Pai de oito filhos, já
adultos, o sustento da família sempre veio daquilo que já não tinha mais
serventia para as pessoas.

 

Atualmente residindo em
Luzimagues, distrito de Porto Nacional, Miranda garante que apesar de todos os
desafios enfrentados, que inclui uma renda mensal em torno de R$ mil, ele vai
se virando como pode e sua intenção é continuar trabalhando como catador. “Meu
sonho mesmo é ter a minha própria prensa de papel. Isso seria maravilhoso e
facilitaria meu trabalho, além de aumentar meus ganhos”, acredita.

 

União
faz a força

 

A Política Nacional de
Resíduos Sólidos estabeleceu uma série de objetivos e diretrizes para a gestão
e gerenciamento dos resíduos sólidos em todo o País, incluindo as
responsabilidades do poder público, consumidores e geradores. Dentre as ações
desenvolvidas pela Prefeitura de Palmas está à presença de um aterro sanitário,
em substituição ao antigo lixão e o Coleta Palmas, programa específico de
coleta seletiva na cidade, desenvolvido pela Fundação de Meio Ambiente (FMA),
em parceria com as secretarias.

 

Mas apesar dessas ações
ainda falta mais apoio de boa parte da população para aderir à prática da
coleta seletiva em casa, lugar em que é produzida a maior parte do material.
Quanto a isso,
 Valdemar Rocha manda um importante recado. “Não adianta só o
catador e algumas poucas pessoas se preocuparem com o destino dos seus
rejeitos. Muito do que é considerado lixo por muitos pode sim ser reciclado e ter
sua vida útil aumentada”, garante o catador.

 

Sobre a atuação dos
catadores no Coleta Palmas, o secretário da FMA, Hebert Veras, explica que eles
são peças-chave no mecanismo. “A iniciativa começa da população ao levar os
materiais aos pontos de coleta. O segundo passo é o recolhimento por parte dos
catadores, que realizam a triagem e o acondicionamento. O processo em Palmas
finaliza com a destinação às grandes indústrias de outros Estados”, detalha.

 

O diretor de Gestão
Ambiental da FMA, Vinícius Parrião, explica que a atividade do catador é muito
importante, já que boa parte dos materiais coletados em Palmas vem das mãos dos
catadores. “Se não fosse o trabalho feito por eles de forma individual e por
meio das associações, a maioria dos rejeitos continuaria indo para o aterro.
Isso também garante o aumento da vida útil do aterro, além do retorno desses
materiais que

 

Números
expressivos

 

De acordo com o Movimento
Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), diariamente no Brasil
são jogados 76 milhões de toneladas de lixo, das quais 30% poderiam ser
reaproveitados. Desse total que poderia ser reaproveitado, apenas 3% vão para a
reciclagem.

 

Quanto às perdas econômicas,
o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), indica que o Brasil deixa de
ganhar cerca de R$ 8 bilhões anualmente por não reciclar os resíduos gerados
pela população e empresas.

 

Ainda de acordo com o MNCR o
mundo conta atualmente com cerca de 15 milhões de catadores de materiais
recicláveis. Quanto ao Tocantins, o número mais atualizado aponta 1.078
catadores, quatro cooperativas, nove associações e dois grupos informais
ligados ao tema. Os números fazem parte do diagnóstico do Projeto Lixo &
Cidadania, elaborado pelo governo do Estado.

 

Quanto às cidades em que se
encontram esses catadores, o relatório aponta 130 vivendo  em Palmas, 95 na cidade de Gurupi e 94 em
Araguaína. Os homens estão entre a maioria, representando 65% desse público.




(Edição/postagem: Iara Cruz)