
De portas abertas, o Caps AD III oferece tratamento para pessoas que desejam vencer o vício por bebida alcoólica
Equipes interdisciplinares trabalham a lógica da redução de danos deixando o paciente escolher se quer diminuir o uso do álcool ou ficar abstinente
O consumo de bebida
alcoólica é cultural, mas o abuso dessa “droga lícita” pode levar ao
alcoolismo, uma doença que pode trazer transtornos à saúde do indivíduo e
prejudicar as relações familiares, sociais e de trabalho. No último dia 18, foi
o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, mas em Palmas o combate ao uso abusivo
de álcool é feito diariamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Na Capital, a população
conta com tratamento gratuito oferecido pelo Centro de Atenção Psicossocial
Álcool e Outras Drogas, o Caps AD III, que trabalha dentro da lógica de redução
de danos, com foco nos aspectos biopsicossociais da pessoa, de forma que ela
escolha reduzir o consumo ou até mesmo a abstinência.
O Caps AD III adota a
política de portas abertas, 24 horas, sem necessidade de prévio agendamento e
não há fila de espera. O acompanhamento consiste em três etapas: ambientação,
aprofundamento no sentido de vida e reintegração ao meio social. “A pessoa é
recebida, se há uma necessidade avaliada, ela já permanece durante o dia e daí
ela começa um processo de ambientação, onde os profissionais em equipe
interdisciplinar trabalham para produzir junto com essa pessoa o projeto
terapêutico singular dela”, explica o coordenador do Caps AD III, Tony Ely
Cunha, informando que o projeto terapêutico abrange atividades dentro e fora da
unidade. “O ideal é trabalhar com as adaptações da vida diária do indivíduo,
então se ele já trabalha, já estuda, a gente vai reforçar esse
comportamento e abrir mais para que esse projeto se estenda lá fora, na rede
de apoio do próprio Sistema Único de Saúde e também na rede de apoio do
indivíduo para que ele se sinta apoiado no tratamento”, complementa.
O coordenador explica ainda
que o tratamento consiste em trabalhar com o sentido de vida do paciente,
respeitando os aspectos psicológico, social e biológico. “A gente não só apoia
e dá suporte a esse indivíduo para que ele tenha menos agravos biopsicossocial
como a gente atende a toda essa profundidade. Ele tanto pode escolher ter força para ficar abstinente como
ele pode fazer redução desse uso, acordar para um cuidado maior da sua própria
vida, ter maior funcionalidade, passar a protagonizar, a administrar melhor as
ações da sua vida. Porque o objetivo da vida de todo o ser humano é ter
sucesso, e ter saúde hoje, é sinônimo de adaptação à vida, aos problemas que a
vida traz e a felicidade que se quer ter”, ressalta.
Atividades
e busca ativa
O coordenador assegura que
todas as atividades desenvolvidas, mesmo as de lazer, são planejadas, podendo
ser em grupo ou individual que buscam a reflexão da pessoa sobre o seu sentido
de vida. “Nós buscamos focar não nas drogas, mas no sentido de vida, então ela
passa por atividades de grupos operativos, por oficinas terapêuticas, oficinas de
artesanato, oficinas de culinária. Ela passa por grupos que trabalham a
cognição, grupos operativos que trabalham a questão de características de
personalidade como ele se comporta em grupo, como ele lida com a questão da
cooperatividade, da competitividade. Os grupos são voltados para as
características que compõem a personalidade do indivíduo”, explica.
O Caps AD III também
trabalha com a chamada busca ativa, ou seja, não espera o paciente buscar o
atendimento, até porque nem sempre ele tem consciência de que precisa de
tratamento. Nesse sentido, as pessoas que estão a sua volta podem procurar o
Caps que fará a busca ativa do paciente. “A família pode nos procurar mesmo se
o indivíduo não queira vir ou não tenha vindo, ela vai ter um suporte aqui, um
espaço de escuta, de aprendizado e de reeducação de como lidar com isso. Temos
casos e casos de quando os profissionais buscam esse indivíduo ele consegue
fazer um vínculo e esse indivíduo muitas vezes adere ao tratamento. Geralmente
começa com uma visita, onde a gente bate na porta, a gente diz nós somos da
saúde, a gente tem a preocupação para que você fique bem”, explica.
Atualmente, o Caps AD III
está atendendo 600 pessoas por mês, das quais 300 estão estabilizadas (ou
diminuíram o uso de álcool ou estão completamente abstinentes). “Quase todas
essas pessoas usam múltiplas drogas e o álcool é uma delas. Apenas 5% não usam
álcool”, conta o coordenador.
(Edição e postagem: Iara
Cruz)