15 março 2019 às 11:07

Especialista em Saúde Mental explica sobre mitos que geram violência associados aos transtornos mentais

A gerente de Saúde Mental de Palmas, Dhieine Caminski, que também é psicóloga especialista em Saúde da Família, orienta população

Diante dos fatos ocorridos
na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, na última
quarta-feira,13, que envolveu mortes de profissionais e alunos, a Secretaria da
Saúde de Palmas, por meio da Gerência de Saúde Mental, orienta sobre mitos que a população comumente associa a violência aos transtornos mentais.

 

A gerente de Saúde Mental de
Palmas, Dhieine Caminski, que também é psicóloga especialista em Saúde da
Família, explica que antes de mais nada, é importante que a população evite o
compartilhamento de fotos e vídeos de episódios como o da escola em Suzano.
Dhieine lembra que há um consenso entre os especialistas em saúde mental nesta
questão, pois há chances reais de reprodução, principalmente por pessoas que
estão mais vulneráveis a fragilidades psicossociais.

 

“Muitas dúvidas e lacunas
permeiam o imaginário da população procurando uma resposta, um motivo, uma
justificativa quando situações de violência como esta ocorrem. No primeiro
momento de enfrentamento à violência, que tem um ciclo de resposta rápido, as
pessoas utilizam da despersonalização do autor de violência, o tratando como um
‘monstro’, pois desta forma se torna mais fácil para as pessoas aceitarem que
as pessoas ‘normais’ não seriam capazes de violência de tal proporção”, observa
a especialista, explicando ainda que, após a retirada da humanidade dessas
pessoas, vem a fase da explicação ou atribuição uni-causal da responsabilidade
‘mãe era usuária de drogas’, ‘avó faleceu recentemente’ ‘era psicopata’, e
variadas justificativas de como a pessoa se transformou nesse ‘monstro’.

 

De acordo com a
especialista, num terceiro momento, as pessoas se sentem na responsabilidade de
dar uma resolução para que as situações de violência não ocorram mais, como
dizer que ‘as crianças e adolescentes precisam de mais limites’, ‘os pais
precisam ficar mais atentos’, ‘se o professor estivesse armado isso não
aconteceria’. É muito importante atentar para o contexto social e cultural no
modo da produção da violência e de suas repercussões, principalmente no viés político,
econômico e cultural.

 

A gerente destaca que de
maneira geral, as orientações dos especialistas vem na contra-mão do que
comumente se vê como resolução diz a psicóloga pontuando alguns aspectos.

 

A saúde mental está
diretamente correlacionada com a promoção de relações, afetos, vínculos de
proteção e autonomia e isso significa que toda nossa trajetória pessoal e
histórico social estão intimamente ligados, ou seja, não há uma única
explicação e não há uma única solução.

 

A promoção da saúde mental
nos variados espaços da sociedade tem muito mais potência na prevenção de todo
o tipo de violência do que ações voltadas para a discussão de fatos isolados,
ou seja, rodas de conversa e apoio mútuo, atividades culturais, recreacionais,
aproximação de pais, professores, crianças, adolescentes, sociedade, atividades
esportivas, integração social, geração de renda, economia solidária e outras
tem a capacidade de promover vínculos mais fortalecidos, desconstrução de
polaridades que possam alimentar a violência em seu ciclo reprodutivo.

 

Por fim, a associação da
violência com a presença de transtornos mentais no caso de tragédias como esta
é facilmente realizada, pois não há um conhecimento de fato sobre o que é o
transtorno mental, quais são suas repercussões na vida dos sujeitos que
apresentam tais transtornos e há uma banalização da expressão ‘psicopata’.

 

Dhieine ressalta que
psicopatia, sociopatia ou transtorno da personalidade antissocial é um
comportamento caracterizado pelo padrão invasivo de desrespeito e violação dos
direitos dos outros que se inicia na infância ou começo da adolescência e
continua na idade adulta. “Nesse sentido, além de uma família protetiva e
habilidades parentais, aspectos de acesso à educação, cultura, bases materiais
mínimas e estímulo no desenvolvimento de habilidades sociais, de comunicação e
emocionais são decisivos na construção de meios para que pessoas com tais
transtornos consigam ser socialmente funcionais”, orienta.

 

 

 

Revisão e postagem: Iara
Cruz

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