19 abril 2017 às 14:16

Médica indígena faz a diferença na rede pública de saúde em Palmas

​​Para lembrar e reforçar a identidade do povo indígena brasileiro vamos conhecer hoje, 19 de abril, data em que comemora o Dia do Índio, um pouco da trajetória da médica da rede pública de saúde de Palmas, Wilses de Sousa Tapajós.  Nascida no território Cobra Grande, no Pará, região às margens do rio Tapajós, Wilses é uma índia da etnia Tapajós, que apesar da origem, tinha sonhos altos. Foi quando aos sete anos de idade se mudou para Santarém (PA), para estudar e lá completou o Estudo Fundamental e Médio, até se mudar para Belém, onde posteriormente se formou em enfermagem na Universidade Estadual do Pará, em 1995.

 

Atuou na profissão e se mudou para Araguaína, norte do Tocantins, depois de ser aprovada em concurso público para a função, em 1998. Mas a vontade de se superar era ainda maior. Depois da Enfermagem veio a chance de ingressar no curso de Medicina. E Wilses conseguiu. Mudou para Palmas, depois de passar no vestibular para o curso de medicina da Universidade Federal do Tocantins (UFT).

 

Foi a primeira indígena a se formar no curso de medicina oferecido pela UFT e faz parte da primeira turma de médicos formados pela universidade, tendo iniciado os estudos em 2007, ingressando através do sistema de cotas para indígenas.

 

Nos seis anos de faculdade, Wilses conta que superou desafios, teve que conciliar estudo, trabalho e família.  Wilses conta ainda que não teve dificuldades com a língua portuguesa ao entrar na universidade. A grande dificuldade foi aprender o conteúdo do curso. “Eu ‘apanhei’ na parte básica de conteúdo de biologia. Todos os colegas já tinham conhecimento sobre o assunto porque estudaram em escolas boas. Mas, eu não. Houve momentos que cheguei a pensar: Será que estou no lugar certo?”, desabafa.

 

A médica conta que conseguiu se adaptar com a ajuda dos colegas já que os seis anos de faculdade não foram fáceis. Wilses passava o dia inteiro na universidade e à noite fazia plantão em um hospital público de Palmas.

 

Medicina de Família e Comunidade

 

Depois de formada, Wilses se inscreveu no Programa Mais Médicos do Governo Federal e foi selecionada para atuar em um Distrito Sanitário Especial Indígena no Tocantins. Para Wilses que, além das duas faculdades, é especialista em Saúde Indígena, sua atuação no programa foi muito importante para sua formação.

 

“O meu desejo de contribuir com a saúde indígena é grande. Vejo alguns indígenas que entram na universidade e se perdem na multidão. Depois de formados não contribuem com seus povos. Quero fazer diferente. Atuei na Ilha do Bananal trabalhando com os povos Javaé e Krahô-Canela por quatro meses e depois por mais um ano como supervisora do programa Mais Médicos, experiência rica onde tive a oportunidade de conhecer a realidade de saúde dos povos do Tocantins”, conta a médica que saiu do programa após ser aprovada para a primeira turma de Residência em Medicina de Família e Comunidade ofertada pela Fesp.

 

Foram dois anos como residente e agora ela é preceptora de novos médicos que também escolheram essa especialização. Hoje, ela atua no Centro de Saúde da 406 Norte e sente-se feliz em fazer parte da família SUS da Capital. “Gosto muito do que eu faço, ensinar a importância da medicina na atenção primária, pois aqui temos a oportunidade de atender e contribuir com a saúde da pessoa, da família e conhecer o território que ela pertence, o que no meu ponto de vista, isso é fazer saúde de qualidade e completa, com resultados verdadeiros de uma saúde não só focada na doença, mas envolvendo outros conceitos como a moradia, a segurança, o emocional, o nutricional e outros”, ressalta a médica que foi aprovada para o mestrado em Saúde da Família.

 

Atualmente, Wilses é médica preceptora da Fundação Escola Pública de Saúde (Fesp) e atende no Centro de Saúde Comunitário da 406 Norte. Na rede de saúde da Capital, a profissional é querida e admirada por todos. “É notório a preocupação da Drª Wilses com a efetivação do SUS. Sua atuação profissional é exemplo para os demais profissionais da equipe, como por exemplo atitudes de escuta do usuário, de interação, fatores determinantes na qualidade da assistência em saúde”l, destaca com orgulho da colega Nésio Fernandes, secretário de Saúde Palmas. (com informações do Blog Alter do Chão online)

 

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