
O tradicional e o moderno na Cultura Indígena são temas de diálogo na Oca da Sabedoria
Se a cultura dos povos indígenas é
diversa, ela também está em constante transformação, se equilibrando entre o
tradicional e o contemporâneo na aldeia global. Essa realidade cultural dos
povos indígenas foi o assunto da roda de diálogo do Fórum Social Indígena na
Oca da Sabedoria dos I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, na manhã desta
quarta-feira, 28.
A frente da roda de discussão, o ator
e ativista cultural Sérgio Mamberti lembrou que os JMPI são, “além de
esporte, um retrato da dimensão cultural dos povos indígenas”, que apesar de
alguns avanços em relação a políticas públicas, ainda carecem de mais ações
para a continuidade de suas manifestações. “Estes Jogos, a gente está falando
de esportes, mas o tempo todo vejo como manifestação cultural. A diversidade e
a dimensão cultural nos Jogos são extraordinárias”.
“Um País civilizado respeita as
diferenças, a diversidade”, criticou João Jorge, diretor do grupo Olodum, ao
lembrar que falar da cultura indígena, é também, tratar das questões de
direitos. Direitos estes em constante desrespeito, a exemplo da aprovação em
primeira votação, da Proposta de Emenda Constitucional, 215, que transfere do
Governo Federal para o Congresso Nacional, a demarcação de terras indígenas. “A
gente vê o Congresso Brasileiro tentar tirar da população indígena o direito de
existir, continua um duelo com indígenas, o mesmo da época da Colonização.
Quando a gente vê essa discriminação vemos o Brasil dar às costas para seu
espelho”, ressaltou.
Ser indígena em meio à civilização
não indígena é conviver com o preconceito e assimilar a cultura de fora ao
mesmo tempo em que busca preservar direitos e valores culturais próprios. Assim
podemos resumir o depoimento dos integrantes do grupo de Rap Guarany, MC`s Bro, formado por indígenas Guaranis da cidade de
Dourados, no Mato Grosso do Sul, e o retrato perfeito do multiculturalismo em
que vivem os índigenas. O grupo encontrou na música de origem americana,
uma forma para se expressar, tendo na poesia e no ritmo cadenciado do Rap o meio certo para expor o protesto
em relação às dificuldades que enfrentam.
“Quando eu era pequeno, lá em
Dourados no Mato Grosso, a gente vivia muita discriminação, não conseguia
comprar uma roupa em uma loja, mandavam a gente ir embora. Então decidi lutar
do meu jeito, eu ouvia uma rádio que tinha um programa de rap, e aí decidi que eu também ia cantar. O Bro é rap, é dos americanos, mas é de índio
também. O Bro é o único grupo de rap
que canta a realidade do povo indígena”, depôs o MC Bruno.
O Bro MC`s cantou duas músicas após o
debate, nas letras a mescla dos idiomas português e guarani, além de exibir um
videoclipe gravado em Dourados-MS.
A atriz Eunice Baia, que quando
criança gravou o filme Tainá, uma Aventura na Selva, também compôs a roda de
diálogo, com um depoimento sobre a sua participação no filme e as mudanças que
ele promoveu em sua vida. “Sou descendente de Baré, do Norte do Pará, os Barés
hoje estão quase extintos, e quando fiz o filme, aos oito anos, mudou a minha
vida, fui inserida em diversas discussões sobre meio ambiente, e outros
assuntos sobre a questão indígena”.
Moção de repúdio
Encerrando o momento, o assunto foi
centralizado na aprovação da PEC 215 com discussões entre plateia e mesa, sobre
os impactos nos direitos indígenas e na diversidade étnica que essa proposta
acarretaria aos povos originários, sendo deliberado à elaboração de uma Moção
de Repúdio a ser enviada ao Congresso Nacional e a outros órgãos nacionais e
internacionais. “Essa medida é uma ameaça grave a promoção da diversidade
cultural, que deve ser levada a entidades internacionais”, frisou Sérgio
Mamberti.