
Pacientes curados pela Covid-19 podem sofrer sequelas em vários órgãos
Processo inflamatório desregulado da doença atinge diversas partes do corpo e infectologista da Semus explica ações da Covid-19 em pacientes considerados curados
Desde o primeiro caso
de Covid-19 no Brasil, no dia 26 de fevereiro, muitas são as dúvidas a respeito
do contágio e de como a doença age no organismo humano. Em meio aos infectados,
muitos pacientes conseguiram receber alta da doença. Por ser uma pandemia nova
em todo o mundo, as sequelas que ela pode causar ainda são desconhecidas.
Em Palmas, a advogada
Kellen Pedreira, 44, foi a primeira pessoa identificada com o novo coronavírus
no Tocantins, no dia 18 de março. Após ficar em isolamento domiciliar e seguir
o tratamento indicado e ser acompanhada e monitorada pela Secretaria Municipal
de Saúde (Semus), ela já está curada, mas ainda não se recuperou totalmente das
sequelas da doença. “Atualmente ainda tenho pneumonia, palpitação e de vez em
quando dor torácica. Mas as sequelas que tive já estão indo embora”, frisou a
advogada.
De acordo com o médico
infectologista da Semus, Rafael Nogueira Araújo de Lima, as ações da doença,
até mesmo nas pessoas que estão curadas, ainda são desconhecidas devido ao
pouco tempo de conhecimento sobre o vírus. “Nós já temos conhecimento que o
vírus estimula nosso corpo a desencadear uma inflamação exagerada. Ele faz com
que um mecanismo de defesa do nosso corpo prejudique diversos órgãos do nosso
organismo”, ressalta o infectologista.
Segundo ele, o comum é
que a Covid-19 ataque principalmente as vias respiratórias, mas, devido a
possibilidade de inflamação descontrolada, outros órgãos humanos podem sofrer
com o vírus, dentre eles os rins, cérebro, coração, a pele e os olhos.
“A resposta
inflamatória que o vírus traz para o corpo é sistêmica, ou seja, viaja pelo
corpo todo do paciente. Por isso há a possibilidade de desencadear diversas
manifestações diferentes no indivíduo. Por exemplo, até a regulação hormonal
pode ser comprometida caso a infecção seja grave”, cita o médico.
Sobre a continuidade do
tratamento em pessoas já curadas, o médico destaca que a questão depende de
vários fatores, tendo em vista que a Covid-19 é uma doença pouco conhecida. “No
caso em que o infectado teve acometimento renal, por exemplo, é necessário que
ele prossiga fazendo hemodiálise”, explica Lima.
De acordo com o
especialista, em casos mais graves, nos quais os pacientes precisam ser
tratados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), as sequelas podem ocorrer
após tratamentos mais invasivos. “Como o mais comum é que o vírus invada o
sistema respiratório, é necessário que alguns pacientes precisem ser entubados
por conta da perda da função respiratória. É um procedimento agressivo e
arriscado, que pode gerar sequelas pulmonares, na fala e até déficits de
oxigenação, problemas neurológicos”.
A respeito do
acompanhamento de quem teve Covid-19 e está com alguma sequela, até o momento é
recomendado que o paciente continue o tratamento no ambulatório específico
daquilo que o acomete. Em Palmas, na Rede Pública Municipal, a população conta
com os Centros de Saúde da Comunidade (CSC) e os serviços de atendimento
especializado.