
Janeiro Roxo: Pacientes com hanseníase relatam histórias de preconceito e superação
Mitos sobre hanseníase são combatidos com ações de conscientização promovidos nos Centros de Saúde de Palmas
Quando o assunto é
hanseníase, o município de Palmas é referência. Esta é a constatação do
coordenador técnico de Hanseníase e Tuberculose da Secretaria Municipal de
Saúde (Semus), Pedro Paulo, que também coordena a Campanha Janeiro Roxo, com
diversas ações de conscientização sobre a doença nos Centros de Saúde da
Comunidade (CSC).
Agenda de consultas
com os familiares dos pacientes, palestras nas salas de espera para
atendimento, avaliação de novos casos e busca de pacientes faltosos ou em
abandono de tratamento, são algumas das ações que estão sendo intensificadas
durante a Campanha. De acordo com Pedro Paulo, tudo isso serve para combater os
mitos e preconceitos sobre a doença, que atinge inclusive os próprios
pacientes.
O coordenador afirma
que Palmas tem se tornado referência para detecção, diagnóstico, tratamento e
acompanhamento dos casos de hanseníase, uma vez que são realizadas as
capacitações dos profissionais de saúde e a descentralização para atendimento
dos pacientes. “Nós contamos com uma médica e uma fisioterapeuta especialista
em hanseníase, ou seja, profissionais que atuam no âmbito do poder público com
um nível de expertise que não é tão comum em muitos outras regiões do Brasil.
Além disso, os Centros de Saúde possuem rotinas semanais e mensais para atender
os pacientes em tratamento”, pontua.
Preconceito
O preconceito é uma
das principais barreiras para quem sofre da doença. A manicure Jacyele Kelly,
de 23 anos, sabe muito bem o que é isso. Quando suspeitou que estava com
hanseníase, foi ameaçada de perder o emprego no salão de uma amiga. Decidiu
pedir demissão antes e buscou tratamento, primeiro no CSC do Aureny II e
depois, no CSC Loiane Moreira, mais perto da sua nova residência.
A manicure considera
as ações de conscientização dos CSC importantes para combater o preconceito em
torno da doença, principalmente sobre o contágio. “Tem gente esclarecida que
acha que só de pegar na mão passa hanseníase”, conta, lembrando de uma situação
em que lhe disseram que sua profissão poderia ter sido a causa da doença. Um
engano clássico.
A literatura médica
assegura que a hanseníase não é altamente contagiosa, e que sua transmissão se
dá principalmente por meio nasais e orais durante contato próximo e prolongado
com pessoa que tem a doença e não recebeu tratamento. Provavelmente é o que
aconteceu com Jacyele Kelly, já que seu marido, sogra, prima e cunhado também
foram diagnosticados com a doença.
Superação
Pacientes com
hanseníase também vivem histórias de superação, que só são possíveis com o
apoio de familiares, amigos e profissionais de saúde. Isso é o que acontece há
quatro meses com a funcionária pública Maria Eliane, de 43 anos. Ela foi
diagnosticada quando se tratava de outra enfermidade. A baixa imunidade é um
dos quadros que favorece a infecção pelo bacilo de Hansen, causador da doença.
Apesar de aceitar que
estava doente e de decidir que iria se tratar, Maria Eliane enfrentou baixas
emocionais, dores físicas e reações adversas aos medicamentos, como enjoos e
anemia. Porém, seu maior medo foi repassar a doença para seu filho de 16 anos,
o que não foi possível evitar. É muito comum a doença se alastrar entre
familiares que convivem.
Eliane atribui o
apoio do CSC como fundamental para superar as dificuldades que viveu com a
hanseníase. “A unidade de saúde, os funcionários são muito importantes. Vamos
dizer assim, que eles são a porta de entrada e a porta de saída, porque por
meio do Centro de Saúde eu consigo ter todo um apoio, seja medicação ou os
meus exames. O apoio do profissional que está me atendendo aqui, os profissionais
dessa unidade (Loiane Moreira) são todos muito bem capacitados, sabe? E assim
eles acolhem a gente com muito amor, então tudo isso faz um diferencial muito
grande para um paciente de hanseníase”, relata.
Tem cura
A hanseníase é uma
doença neurológica com acometimento na pele e que pode comprometer a função de
nervos, principalmente sensitiva e motora. Isso significa que os pacientes
podem ter perda de sensibilidade de temperatura, inflamação nos nervos e
manchas na pele.
Todos os CSC de
Palmas possuem meios para detectar casos de hanseníase e encaminhar para o
tratamento adequado com duração de seis meses a um ano, conforme a necessidade
e especificidade de cada paciente. Pedro Paulo lembra que a hanseníase tem cura
e seu tratamento é totalmente gratuito pelo Sistema Único de
Saúde. “A gente tem que enfatizar que as pessoas precisam conhecer mais sobre a
doença e nada melhor do que vir a uma unidade de saúde com profissionais
capacitados para falar sobre o tema. A hanseníase é uma doença totalmente
curável e hoje Palmas é um polo de referência em tratamento”.