Foto: Maria de Ludres Abreu Local: ETI Daniel Batista Data: 12.05.2023
16 maio 2023 às 07:02

Professora do extinto Povoado Canela relembra momentos históricos da construção da ETI Daniel Batista

Sem escola para abrigar alunos no ano de 1980, moradora do Canela, Maria de Lourdes Abreu Lima, começa alfabetizar crianças e jovens da comunidade no quintal da sua casa

Foi debaixo de uma árvore que muitas crianças do antigo Povoado Canela, localizado anteriormente às margens do Rio Tocantins, próximo a antiga Praia da Graciosa, aprenderam a ler e a escrever. Sem escola para abrigar os alunos no ano de 1980, a moradora do Canela, Maria de Lourdes Abreu Lima, que era catequista da comunidade, observou que muitas delas não liam e nem escreviam e também não estudavam, pois a escola mais próxima ficava em Porto Nacional. Assim ela, ainda muito jovem, começou a alfabetizar crianças e jovens da comunidade no quintal da sua casa. Conheça agora, a primeira história da série especial da educação para celebrar o aniversário de 34 anos da Capital

Naquela época, em alguns meses do ano, ela e os estudantes enfrentavam sol e períodos de muita chuva e as aulas aconteciam da forma mais precária devido à falta de estrutura. Maria de Lourdes perdia noites de sono procurando uma solução para melhor atender as crianças e não as deixar sem estudar. Notando a sua aflição e vontade de continuar ensinando o grupo, seu esposo decidiu construir na área da propriedade do casal um pequeno galpão para que a sala de aula fosse então montada. 

Ela não tinha quadro e nem giz. Papel, cadernos e lápis eram poucos e insuficientes para atender o número de alunos, que com o novo espaço aumentou. A professora conta que por um bom tempo substituiu o papel por folhas de uma árvore conhecida como Capa Rosa, além de talos de madeira para substituir o lápis. “Não tínhamos acesso fácil ao material escolar, então o jeito era improvisar e não deixar o grupo sem aulas. Havia alunos de várias idades, e a única professora era eu. Mesmo com muita dificuldade, muitos saíram de lá alfabetizados e hoje são profissionais em diversas áreas de atuação”, lembra a educadora.

Como a demanda de alunos foi crescendo, a educadora foi atrás do poder público para solicitar ajuda para o povoado. “Não havia recurso, não tinha para onde correr, porque o meu trabalho era feito de forma voluntária. Então eu decidi que ia procurar o prefeito de Porto Nacional para pedir ajuda, pois já tinha começado o trabalho e não podia parar. Chegando à cidade para falar com o prefeito, notei que ele já tinha algumas informações sobre o que estava acontecendo no povoado. Logo ele fez uma reunião com a comunidade, fez uma eleição para a escolha da pessoa que ficaria responsável pela escola e por unanimidade eu fui escolhida como diretora. Daí as coisas foram melhorando um pouco”, relembra a professora, destacando que neste mesmo período o gestor de Porto Nacional cedeu um novo espaço para que a unidade escolar fosse instalada.

No decorrer dos anos, o número de alunos foi crescendo, chegaram mais pessoas para ajudar na escola e novas demandas foram surgindo, como a implantação da 5ª série, para matricular os alunos que concluíam as séries iniciais. A unidade de ensino instalada naquele período recebeu o nome escolhido pela comunidade local de Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, mas com o tempo e com regulamentação da unidade, o nome foi alterado, passando a chamar-se Escola Daniel Batista, em homenagem ao líder comunitário e um dos fundadores do Povoado Canela.

Emocionada, a professora lembra como o cotidiano na escola se entrelaçava com a rotina dos moradores do Canela. “Lá nós éramos 50 famílias e todos viviam como uma grande família. Daí em 2001, devido à construção da Usina Hidrelétrica (UHE) Eduardo Magalhães, o Povoado foi inundado pelo Lago, e todas as famílias foram remanejadas para a Arne 64 (508 Norte) e uma nova escola foi construída. No período da construção, os alunos que eram atendidos no Canela foram transferidos para a Escola Municipal Anne Frank e todos os professores vieram juntos e ficaram responsáveis por apoiar os estudantes neste processo de mudança", descreve Maria de Lourdes, que ficou como referência para os alunos e também para a equipe do povoado.   

 

Daniel Batista

Em julho de 2002, a Escola Municipal Daniel Batista começou a funcionar em Palmas, atendendo os estudantes do Canela e também das quadras vizinhas à unidade escolar. “Eu continuei como profissional da escola até o dia que me aposentei. Durante todos esses anos, já passaram tantas crianças pela Daniel Batista. Volta e meia encontro ex-alunos na rua que me enchem de emoção com as boas lembranças. Formamos vários educadores, advogados, engenheiros, e tantos outros profissionais de áreas diferentes, e isso me traz muito orgulho e satisfação”, revela a educadora.

Atualmente a Escola de Tempo Integral Daniel Batista atende 592 alunos. É uma unidade de ensino com médias boas nas avaliações do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), soma em seu portfólio vários projetos educacionais que receberam destaque na rede de ensino de Palmas e conta com uma equipe com 65 profissionais. 

“Moro pertinho da Daniel Batista, sou vigilante com o andamento da escola. Vibro por cada conquista da unidade. Sou muito feliz de ter feito parte desta história”, comemora Maria de Lourdes.

 

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