04 abril 2018 às 10:57

Profissionais e sociedade debatem os desafios para a saúde e acolhimento de transexuais no SUS

As discussões aconteceram durante o 4º Encontro do Fórum Permanente de Saúde Mental

O estudante de enfermagem Felipe Pinheiro está em
processo de transexualização e diz que enfrenta muitas dificuldades e falta de
amparo por parte do sistema de saúde em geral, tanto público quanto privado. Ainda
com aparência masculina, utiliza hormônios há algum tempo e relata que faz por
conta própria porque não encontra informações necessárias entre os
profissionais da saúde em Palmas. “Acho que este evento é uma grande
oportunidade de discutir as necessidades e o tema da transexualidade”, afirmou.

 

O relato do jovem Felipe demonstra o quão
urgente e importante se torna o debate e a criação de políticas públicas
voltadas para a população transexual. Esse é objetivo do 4º Fórum Permanente de
Saúde Mental, promovido pela Secretaria Municipal de Saúde. O evento ocorreu na
tarde da última terça-feira, 03, no auditório do Centro Universitário Luterano
de Palmas (Ceulp/Ulbra). A gerente de Saúde Mental da Semus, Dhieine Caminski,
destacou que a questão não é só discutir o acolhimento na saúde, mas na
sociedade como um todo, derrubando os preconceitos e estigmas sociais sofridos
pelas pessoas trans. “O acolhimento deve se dá também na perspectiva
profissional e do trabalho para que os transexuais tenham oportunidades no
mercado de trabalho e deixem de ser vistos apenas no âmbito da prostituição”,
frisou Dhieine.

 

Alunos de diversos cursos ligados à área de saúde
estiveram presentes no evento, entre eles acadêmicos de Psicologia, Enfermagem,
Educação Física e Serviço Social. Além disso, participaram
também agentes comunitários de saúde de Palmas. Os condutores do
debate foram representantes do Ministério da Saúde, da
Semus e membros da Associação de Travestis e Transexuais do
Estado do Tocantins (Atrato).

 

O presidente da União Nacional LGBT e gestor de
Políticas Públicas do Ministério da Saúde, Andrey Lemos, relembrou as origens
do preconceito, da violência e da exclusão sofridos pelas mulheres, negros,
transexuais e outras minorias. “Somos fruto de uma sociedade patriarcal e
machista, na qual as melhores posições sempre foram privilégio dos homens.
Culturalmente isso se reflete hoje, na exclusão que as populações trans sofrem,
por romperem com costumes conservadores”, relembrou.

 

Muitos casos de depressão, doenças psicossomáticas
e até o suicídio podem ter como origem a exclusão sofrida pelas populações
trans. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
e mencionada no Fórum, demonstra que 46% das pessoas transexuais já
tiveram ideias suicidas. “Todos buscam ser felizes. Se a pessoa não tem
perspectiva de ser feliz, rejeitada pela família, que é a coisa mais preciosa
que temos, para quê continuar vivendo?”, reflete e questiona Andrey Lemos.

 

Os desafios são muitos para que a sociedade, as
famílias e o sistema público de saúde consigam efetivamente acolher a população
transexual. O SUS tem algumas diretrizes já estabelecidas, como a instituição,
da portaria 1820/09, que garante o uso do nome social no cartão do SUS para os
trans. Há também a portaria 2803/13, que visa redefinir e ampliar o processo de
transexualização no SUS. 


Para o titular da Semus, Nésio Fernandes, este é um
processo dos trabalhadores do SUS que precisam encabeçar esta luta. “A saúde
precisa se mobilizar e se posicionar para conseguir os avanços necessários à
população trans. O SUS é um espaço de construção de cidadania e não apenas de
saúde”, concluiu. 

 



(Edição e postagem: Iara Cruz)

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